terça-feira, 9 de novembro de 2010

Para onde vamos




A maioria das civilizações Europeias conquistaram (invadiram) outras civilizações, se apropriaram de suas ciências, culturas, religiosidades, arquiteturas, simbologias gráficas, escritas, metais valiosos a exemplo do ouro... A principal é a Romana que através da sua religião, impôs ignorantemente essa mistura de crenças e valores adquiridos de maneira violenta. Em tempos antigos de guerra se eliminavam todos os inimigos, mas depois de conhecer os Egípcios que escravizavam os inimigos para trabalhos em que seus povos não poderiam e nem queriam fazer a exemplo das grandes pirâmides, a escravidão se tornou uma pratica Europeia que cominou com uma escravidão em massa na África resultando em anos de tráfico de escravos originados da África para trabalhos braçais em outros continentes como Europa, América, etc... E posteriormente justificado ignorantemente por uma suposta inferioridade do ser humano africano. Dessa maneira foi iniciada uma nova éra na vida humana em que a sobreposição pela força tomou o lugar da competição primária pela sobrevivência, em que o homem nômade e tribal vivia em relativa harmonia e igualdade de vivência na África.  

A aldeia maasais ainda permanece em modo original.
Nos tempos atuais essa pratica se aprimorou, porém, é necessário ter uma motivação justificável antecipada (uma acusação de qualquer natureza e a mais usada é o terrorismo) para o inicio de uma invasão a exemplo do Iraque invadido pelo USA ambicionando o petróleo. Em função dessas atitudes bárbaras, foram criados diversos tratados formados por grupos de específicos de países para coibir essa pratica, no entanto nem todos os países respeitam esses tratados em função de seus próprios interesses.
 No tratado de Berlin em 1884/1885 potências europeias decidiram como ocupariam (invadiriam) o continente africano sem respeitar a sua pluralidade étnica e cultural, para exploração de suas riquezas naturais (matérias primas de necessidade da industrialização europeia)em função da eminente abolição da escravidão e consequente marginalização dos afrodescendentes. Os resultados dessa catástrofe podem ser visto hoje nas estatísticas de desemprego, nas ruas, presídios e favelas das metrópoles e grandes cidades do mundo todo.

                            Precisa dizer mais alguma coisa?

publicado por: Estevinho

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Primeiros Idealizadores Pan-Africanistas


                      
Marcus Mosiah Garvey







Marcus Mosiah Garvey nasceu em Saint Ann's Bay, capital da paróquia de Saint Ann, Jamaica. Ele era o mais novo de 11 filhos, 9 dos quais morreram ainda na infância. Garvey frequentou a escola infantil e elementar em Saint Ann's Bay, e era tido como aluno brilhante. Ele também recebeu instrução particular de seu padrinho Alfred Burrowes, proprietário de uma oficina gráfica. Com 14 anos Marcus Garvey tornou-se aprendiz no negócio. 
Marcus Mosiah Garvey foi um comunicador, empresário e ativista jamaicano (Saint Ann's Bay, Jamaica, 17 de agosto de 1887 – Londres, 10 de junho de 1940). É considerado um dos maiores ativistas da história do movimento nacionalista negro. Garvey liderou o movimento mais amplo de descendentes africanos até então; é lembrado por alguns como o principal idealista do movimento de "volta para a África". Na realidade ele criou um movimento de profunda inspiração para que os negros tivessem a "redenção" da África, e para que as potências coloniais européias desocupassem a África. Em suas próprias palavras, "Eu não tenho nenhum desejo de levar todas as pessoas negras de volta para a África, há negros que não são bons elementos aqui e provavelmente não o serão lá." Apesar de ter sido criado como metodista, Marcus Garvey se declarava católico.
 



William Edward Burghardt Du Bois






William Edward Burghardt Du Bois (pronuncia-se /duːˈbɔɪs/[1] 23 de fevereiro de 1868 - 27 de agosto de 1963) foi um líder intelectual da comunidade negra na América. Em várias funções como ativista dos direitos civis, Pan-africanista, sociólogo, historiador, escritor e editor. Biógrafo David Levering Lewis escreveu: "No decorrer de sua turbulenta carreira longa, WEB Du Bois tentou virtualmente toda solução de possíveis para o problema do século XX, o racismo bolsa, propaganda, integraçãonacional, autodeterminação, direitos humanos, culturais e económica separatismo, política internacional, o comunismo, expatriação, do terceiro mundo a solidariedade. "[2]
Du Bois se formou em Harvard, onde obteve seu doutorado em História, mais tarde ele se tornou um professor de história e de economia na Universidade de Atlanta. Ele se tornou o chefe da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP), em 1910, tornando-se fundador e editor da revista da NAACP The Crisis. Du Bois levantou-se a atenção nacional em sua oposição de Booker T. Washingtons idéias "de alojamento com Jim Crow separação entre brancos e negros e da exclusão de negros, em campanha em favor da representação política aumentou para os negros, a fim de garantir os direitos civis e da formação de uma elite negra que iria trabalhar para o progresso da raça American Africano.

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Racismo vísivel na mão invísivel

CENTRO DE ESTUDO PESQUISA E APLICAÇÃO PAN-AFRICANISTA (CEPAPA)
Aprendendo com o passado


Investigar a história e cultura dos povos africanos e afro-diáspora.

Racismo vísivel na mão invísivel


O argumento utilizado para referir-se a África como continente sem povo, sem nação, nem estado, sem passado, sem história, esta informação não procede. Pois esse tipo de "exformação" propagada massivmente por todos os meios possíveis, faz com que na cabeça de diversos indíviduos se aliene a essa exformação, transformando-a em conhecimento absoluto na consciência do seu ser. tirando conclusões como: - A África esta no grau inferior da escala evolutiva; - Os povos da África são primitivos.
Acreditando que em tempos remotos uma parte da  África ficou branca por esta próximas aos europeus ocidentais, e povos do mediterrâneo que era separado pelo deserto do Saara e não tinham comunicação entre si, esse tipo de afirmação faz parte dos planos políticos ideológicos dos neoimperialistas. Tal Discurso utiliza imagens e suas teorias convincentes, alienantes.
No filme "A Múmia" mostra o Faraó Egípcio.
Imothep o Faraó Egípcio é preto, no cinema mostra que Imothep seria branco.








Mas o vídeo abaixo mostra estudo feitos por Phds:

 


Podendo citar do  Carolus Linnaeus/ Carlos Lineu (1707 - 1778)Carolus Linnaeus, em português Carlos Lineu, e em sueco após nobilitação Carl von Linné (23 de Maio de 1707 - 10 de janeiro de 1778) foi um botânico, zoólogo e médico sueco, criador da nomenclatura binomial e da classificação científica, sendo assim considerado o "pai da taxonomia moderna". Foi um dos fundadores da Academia Real das Ciências da Suécia. Lineu participou também no desenvolvimento da escala Celsius (então chamada centígrada) de temperatura, invertendo a escala que Anders Celsius havia proposto, que tinha 0° como ponto de ebulição da água e 100° como o ponto de fusão.

Em seu livro "sistema naturae" , Charles Linné, ele classifica o homo sapien como:
"... classificada em cinco variedades, cuja principais delas são: sumareadas em seguida:
A) Homem selvagem, quadrúpede, mudo, peludo. B) Américano: cor de cobre, colérico, ereto, cabelo negro, liso, expesso, narinas largas, semblante rude, barba rala, obstinado, alegre. pinta-se com finas linas vermelhas e guia-se por costumes. C) Europeu: claro, sanguineo, musculoso, cabelo loiro, castanho, ondulado, olhos azuis, delicado, perspicaz, inventivo. Coberto por vestes justas, governado por leis. D) Asiático: escuro melancólico, rígido, cabelo negros, olhos escuros, severos, orgulhosos, cobiçosos. Coberto por vestimentas soltas. Governados por opniões. E) Africano: negro, fleumático, relaxados, cabelos negros, espesso, pele acelinada, nariz achatado, lábios túmidos, engenhosos, indolente, negligênte. Untta-se com gordura. É governado pelo capicho."¹
1. Burke, Jonh G." the wild man's pedigree". In. DUDLEY, Edward e Novak, Maximiliam. The wild man within. Pettsbugh, Pettsbugh:UP., 1972, pp. 266-7. Apud Pratt Mary Louse. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru/São Paulo: Edusc, 1999, p. 68.

Esse tipo de pensamentos justificou o discurso politíco ideológico europeu, usado para a escravização e trafico de povos africanos.
Sendo reforçado pelo filosofo Friedrich Hegel (1770 - 1831) como porta-voz do pensamento hegemônico do fim do século XVIII e todo século XIX. Hegel e seu livro " filosofia da história universal", aistóricidades da África decorre em duas razões interdependente.
oit1- pelo faro de a história ser entendida como propósito do velho mundo que exclui a África Subsaariana;
2- por conceber o africano como sem autonomia para construir sua propria história.
onde ele cita: " a África propriamente dita é a parte caracterista deste continente, começamos pela consideração deste continente. Porque em seguida podemos deixar de lado por assim dizer. Não tem interesse histórico proprio, senão os de que os homens vivem ali na barbarie e na selvageria, sem fornecer nenhum elemento a civilização. Por mais que retrocedamos na história, acharemos que a áfrica estará sempre fechada no contato com o resto do mundo, é um Eldorado recolhido em si mesmo, é o País criança, envolvido na escuridão da noite aquem da luz da história consciente.[...] nessa parte principal da África não pode haver história "²
2- Hegel, George W. F. filosofia de la historia universal. Madri: revista de Ocidente. 1928, t.1 p. 190 e192.

Como aceitar tal definição do Continente Berço da Humanidade ?
Que tipo de idéia ele deseja propagar quando afirma isso de nossos Ancestrais?
Desrespeito completo a nós e nossos ancestrais, como dizer que somos selvagens tratando como algo pejorativo o fato de vivermos em harmonia com a natureza, respeitando os seres que vivem na terra e merecem respeito igualmente a nós. Logo vemos onde a humanidade quer chegar quando acredita e transfomra em verdade pensamentos produzidos por Hegel  e seus sucessores, que vem aumentando cada vez mais quando forma estudantes em colégios e universidades com a visão distorcida, insuficiente da realidade e verdade, sem interesse de reconhcer o valor do continente e povos africanos.
Como continuar seguindo ou dar continuidade a um pensamento como o de Hegel?
Que escreve: " ... Aqui o homem em seu estado bruto tal é o homem na África. Por quanto o homem aparece como homem, põe-se em oposição a natureza, assim é como se faz homem.
Mas, por quanto se limita, se diferenciar-se da natureza, encontra-se no primeiro estágio, dominadopela paixão, pelo orgulho e a pobreza; é um homem estúpido. No estado de selvageria achamos os africanos enquanto podemos observar e assim ter perrmanecido. O negro representa o homem natural em toda sua barbárie e violência; para compreende-lo devemos esquecer  todas as representações europeias.  Devemos esquecer Deus e a Lei moral. Para compreende-lo exatamente, devemos abstrair de todo respeito e moralidade, de todo sentimento. Tudo isso esta no homem em seu estado bruto, e cujo carater nada se encontra que pareça humano."³
3- Hegel, George W. F., op. cit. pp. 193 e 194.

Pura cegueira mental pensar isso de um continente tão rico. Em nosso subsolo africanos possui uma infinidade de minerais como: cobalto, ouro, diamante, cobre, etc. Posso dizer que o subsolo africano é peça fundamental para o desenvolvimento industrial de diversos países, inclusive aqueles que escrevizou e colonizou a África. no entanto esse discurso feito por Hegel, serve para mascarar as atrocidades feita pela europa para consegui a riqueza africana, e assim afronta nosso povo africano quando diz que "para ser homem tem que opor-se a natureza." Vemos o desrespeito completo pela natureza, ou seja, na visão deles devemos nos opor a tudo que esta ao externo. Mas para nós africanos não existem dicotomia entre homem e natureza, pensamos na unidade viv, onde todos fazem parte de um Único ser.
Pensar assim não é barbárie nem violência. Vejo este pensamento de Hegel totalmente distorcido e limitado, pois para querer opor-se a algo que é maior que você, terá que usar a violência e a barbárie para conseguir vencer e se impor.

Immanuel Kant ou Emanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 – Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) foi um filósofo alemão, geralmente considerado como o último grande filósofo dos princípios da era moderna, indiscutivelmente um dos seus pensadores mais influentes.
12 de fevereiro de 1804 com 80 anos de idade, Kant faleceu em Königsberg, após prolonagada doença que apresentava sintomas semelhantes à Doença de Alzheimer. Já não reconhecia sequer os seus amigos íntimos.


                            
Podemos ver que ambos tem visão preconceituosa sobre a África.
Em 1883 a Itália havia submetido uma pequena parte da Líbia, Eritréia e costa da Somália em 1886 comunicou as demais potências européias o seu dominio sobre a Etiópia, transformando--a em protetorado. A Itália reinvidicou para si a Etiópia, apoiada no capitulo VII, das disposições gerais, artigo 2º, data geral da conferência de Berlim. Mas imposibilitada de cumprir a obrigatoriedade da ocupação efetiva, a Etiópia continuou um terriitório livre em um continente partilhado e conquistado pela europa. 
O Etiópes sob o reinado de Menelik II (1893), com o império unido e o exército numericamente grande e bem equipado, foram capazes de derrotar os italianos em Adowa, no ano de 1896. Mostrando que a união dos povos que vivem na região da nascente do Nilo, Etiópia, em toda sua diversidade cultural vivem harmoniasamente e vence o mau que a todo momento tenta invadir e dominar. O homem original preto, original blackman, conheece  sua fé, a ponto de acontecer em 1893, Menelik diz: "A Etiópia não precisa de ninguém, Ela estende as mãos para Deus".
Como dizer que os africanos não tem moral e não acreditam em Deus?

Existe um conjunto de valores e caracteristicas pelo decorrer desse blog, mostraremos o porque a Etiópia ser considerada um País/Nação com passado glorioso e um futuro proprio de uma grande nação capaz de manter a sua liberdade. Dessa forma a Etiópia torna-se referência central de movimentos pan-africanos, de independência cristã, e também de projetos politícos de longo prazo na África e afro-diáspora. 

Os estudos antropológicos que referencia kant como importante pensador, que retoma a tradição de uma geografia voltada pra antropologia, Kant propunha descrever a realidade humana num livro publicado em 1802 no qual se referia aos africanos do sul do Saara como "homens que cheiram mau" e tem pele negra por "maldição divina". Kant, Emmanuel. Geographie. Paris: Aubier, 1999."



Por Ras Tonton Fya Burning.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

CEPAPA - Agindo!!

Aprendendo com o passado
 Investigar a história e cultura dos povos africanos e afro-diáspora.
BLOG:  http://cepapa.blogspot.com                      
 E-MAIL centropanafricano@gmail.com

O projeto CEPAPA AGINDO, dedica-se a trazer uma literatura que não é discutidos na educação convencional. Logo a proposta do CEPAPA  é trazer ao conhecimento dos participantes do projeto a apresentação de autores e pensadores africanos e africanistas, para melhor compreendermos nossa situação social.  
QUADRO DE ATIVIDADES CEPAPA – MÊS DE OUTUBRO/NOVEMBRO 2010
HRS/DIAS
SEGUNDA
TERÇA
QUARTA
QUINTA
SEXTA
SÁBADO
14:00 16:00
LEITURA
LEITURA
LEITURA
LEITURA
LEITURA
ATIVIDADE
 EXTENSÃO
16:00
18:00
OFICINA DE TEXTO
OFICINA DE DANÇA AFRO
FILMES E VIDEOS
OFICINA DE DANÇA AFRO
FILMES E VIDEOS


Local: Rua Muniz Sodré n°40 Outeiro (Alto São Sebastião) – centro – Ilhéus – Bahia.
É onde acontece as atividades do CEPAPA, com leitura de autores africanos e africanistas, é envolvido também outras atividades relacionada com a cultura afro. 
FOTOS DO MÊS DE OUTUBRO, NOVEMBRO E DEZEMBRO  DO PROJETO CEPAPA AGINDO

O CEPAPA vem envolvendo suas atividades de entendimento do Pan-Africanismo, de segunda a sexta das 14:00 às 18:00. Sendo que as sextas feiras à partir das 20:00 tem exposição de videos e discussão Pan-africano.Na foto esta sendo apresentado as ideias de W. Du Bois e de Marcus Garvey. 
Amostra de videos: Violentamente pacífico, com Ras MC Léo Carlos.






                                                   Logo após as apresentrações acontece o ensaio do Bloco Afro MiniKongo, Bloco da propria comunidade (Outeiro), que esta comemorando 30 anos de existência, representando a cultura negra.

A cultura de matriz africana sendo expressa através de sua estética e dança.
Com movimentos caracteristicos de nossa ancestralidade africana.




































E o movimento afro continua ao som do Minikongo e seu Samba Reggae.


Publicado por: Ras Tonton Fya Burning & Estevinho

domingo, 17 de outubro de 2010

A Tradição Viva

 
A. Hampaté Bâ




"A escrita é uma coisa, e o saber, outra. A escrita é a fotografia do saber, mas não o saber em si. O saber é a luz que existe no homem. A herança de tudo aquilo que nossos ancestrais vieram a conhecer e que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram, assim como o baobá já existe em potencial em sua semente."
                                                                    Tierno Bokar¹


Árvore Baobá                                                                                                                                                                                       

                                                           Quando falamos de tradição em relação à historia africana, referimo-nos à tradição oral, e nenhuma tentativa de penetrar a história e o espírito dos povos africanos terá validade a menos que se apóie nessa herança de conhecimentos de toda espécie, pacientimente transmitidos de boca a ouvido, de mestre a discípulo, ao longo dos séculos. Essa herança ainda não se perdeu e reside na memória da última geração de grandes depositários, de quem se pode dizer são a memória viva da África.
    Entre as nações modernas, onde a escrita tem precedência sobre a oralidade, onde o livro constitui o principal veículo da herança cultural, durante muito tempo julgou-se que povos sem escrita eram povos sem cultura. Felizmente, esse conceito infundado começou a desmoronar após as duas últimas guerras, graças ao notável trabalho realizado por alguns dos grandes etnólogos do mundo inteiro. Hoje, a ação inovadora e corajosa da Unesco levanta ainda um pouco mais o véu que cobre os tesouros do conhecimento transmitidos pela tradição oral, tesouros que pertencem ao patrimônio cultural de toda a humanidade.
    Para alguns estudiosos, o problema todo se resume em saber se é possivel conceder à oralidade a mesma confiança que se concede à escrita quando se trata de testemunho de fatos passados. No meu entender, não é esta a maneira correta de se colocar o problema. o testemunho, seja escrito ou oral, no fim não é mais que testemunho humano, e vale o que vale o homem.
   Não faz a oralidade nascer a escrita, tanto no decorrer dos séculos como no próprio indivíduo? Os primeiros arquivos ou bibliotecas do mundo foram o cérebro dos homens. Antes de colocar seus pensamentos no papel, o escritor matém um diálogo secreto consigo mesmo. Antes de escrever um relato, o homem recorda os fatos tal como lhe foram narrados ou, no caso de experiência própria, tal como ele os narra.
   Nada prova apriori que a escrita resulta em um relato da realidade mais fidedigno do que o testemunho oral transmitidos de geração a geração. As crônicas das guerras modernas servem para mostrar que, como se diz (na África), cada partido ou nação "enxerga o meio-dia da porta de sua casa" - através do prisma das paixões, da mentalidade particular, dos interesses ou ainda, da avidez em justificar um ponto de vista. Além disso, os próprios documentos escritos nem sempre se mantiveram livres de falsificações ou alterações, intencionais ou não, ao passarem sucessivamente pelas mãos dos copistas - fenômeno que originou, entre outras, as controvérsias sobre as "Sagradas Escrituras".
   O que se encontra por detrás do testemunho, portanto, é o próprio valor do homem que faz o testemunho, o valor da cadeia de transmição de qual ele faz parte, a fidedignidade das memórias individual e coletiva e o valor atribuído à verdade em uma determinada sociedade. Em suma: a ligação entre o homem e a palavra.
   É, pois, nas sociedades orais que não apenas a função da memória é mais desenvolvida, mas também a ligação entre homem e a Palavra é mais forte. Lá onde não existe a escrita, o homem esta ligado a palavra encerra um testemunho daquilo que ele é.  A própria coesão da sociedade repousa no valor e no respeito pela palavra. Em compensação, ao mesmo tempo que se difunde, vemos que a escrita pouco a pouco vai substituindo a palavra falada, tornando-se a única prova e o único recurso; vemos a assinatura torna-se o único compromisso reconhecido, enquanto o laço sagrado e profundo que unia o homem à palavra desaparece pregressivamente para dar lugar a títulos universitários convencionais.
    Nas tradições africanas - pelo menos nas que conheço e uqe dizem respeito a toda região de savana ao sul do Saara -, a palavra falada se empossava, além de um valor moral fundamental, de um caráter sagrado vinculado à sua origem divina e às forças ocultas nela depositadas. Agente mágico por excelência, grande vetor de "forças etéreas", não era utilizada sem prudência.
   Inúmeros fatores - religiosos, mágicos ou sociais - concorrem, por conseguinte, para preservar a fidelidade da transmissão oral. Pareceu-nos indispensável fazer ao leitor uma breve explanação sobre os fatores, a fim de melhor situar a tradição oral africana em seu contexto o esclarecê-la, por assim dizer, a partir do seu interior.
   Se formulássemos a seguinte pergunta a um verdadeiro tradicionalista* africano: "o que é tradição oral?", por certo ele se sentiria embaraçado. Talvez responde simplesmente, após longo silêncio: "É o conhecimento total".
   O que, pois, abrange a expressão "tradição oral"? que realidades veicula, que conhecimento transmite, que ciência ensina e quem são os transmissores?
   Contrariamente ao que alguns possam pensar, a tradição oral africana, com efeiro, não se limita a histórias e lendas, ou mesmo a relatos mitológicos ou históricos, e os griots estão longe de ser seus únicos guardiães e transmissores qualificados.
    A tradição oral é a grande escola da vida, e dela recupera e relaciona todos os aspectos. pode parecer caótica àqueles que não lhe descortinam o segredo e desconcertar a mentalidade cartesiana acostumada a separar tudo em categorias bem definidas. Dentro da tradição oral, na verdade, o espiritual e o material não estão dissociados. Ao passar do esotérico para o exotérico, a tradição oral consegue colocar-se ao alcance dos homens, falar-lhes de acordo com o entendimento humano, revelar-se de acordo com as aptidões humanas. Ela é ao mesmo tempo religião, conhecimento, ciência natural, iniciação à arte, história, divertimento e recreação, uma vez que todo por menos sempre nos permite remontar à Unidade primordial.
   Fundada na iniciação e na experiência, a tradição oral conduz o homem à sua totalidade e, em virtude disso, pode-se dizer que contribuiu para criar um tipo de homem particular, para esculpir a alma africana.
   Uma vez que se liga ao comportamento cotidiano do homem e da comunidade, a "cultura" africana não é, portanto, algo abstrato que possa ser isolado da vida. Ela envolve uma visão particular do mundo, ou, melhor dizendo, uma presença particular no mundo - um mundo concebido como um Todo onde todas as coisas se religam e interagem.
   A tradição oral basea-se em uma certa concepção do homem, do seu lugar e do seu papel no seio do universo. Para situá-la melhor no contexto global, antes de estudá-la em seus vários aspectos devemos, portanto, retornar ao próprio mistério da criação do homem e da instauração primordial da Palavra:o mistério tal como ela o revela e do qual emana.

¹ Tierno Bokar Salif, falecido em 1940, passou a sua vida em Bandiagara (Mali). Grande mestre da ordem mulçumana de Tijaniyya, foi igualmente tradicionalista em assuntos africanos. CF. Hampaté Bâ, A. w Cardaire, M., 1957. 
* O termo tradicionalista significa, aqui, detentos do conhecimento transmitido pela tradição oral (N. do T.). 

 CEPAPA - Centro de Estudo, Pesquisa e Aplicação Pan-Africano - nos reunimos todas as tardes no Espaço Cultural Casa Aberta no Outeiro -centro/Ilhéus -Todas as tardes das 14:30 às 18:00 com leitura - debate - oficinas.